Durante toda a vida, reclamamos de não ter tempo suficiente para fazer tudo o que queremos: para viajar a lugares interessantes (ainda que a falta de dinheiro possa interferir na disponibilidade da opção), dar mais atenção aos filhos e acompanhar seu desenvolvimento, estudar para um concurso ou ascender na carreira.
Reclamamos porque não temos tempo suficiente para nós mesmos, não nos cuidarmos como gostaríamos, seja com procedimentos estéticos, seja com mais amiúde fazermos exames preventivos.
Gostaríamos de mais tempo para o lazer e para trabalhar, para cuidar do jardim e para namorar, para estar com quem a gente gosta, para cozinhar coisas apetitosas, para ler mais.
A vida passa e, com ela, o tempo, naturalmente fluido, torna tudo passado, mesmo o instante em que você acaba de ler a palavra "palavra".
Ele escorre, inexorável, independentemente das escolhas que fizermos; é sempre um "já passou" ou um "será". Cada "agora" do qual nos damos conta, considerado em si mesmo, é um adeus ao presente, é um "já foi": agora, agora, agora, agora, agora, agora, agora, agora, agora...
Então um dia percebemos que o tempo que dispúnhamos foi mal direcionado, seja porque perdidos em ocorrências irrelevantes, seja porque sequer pensávamos em equacioná-lo. Não necessariamente tudo deve ser intelectualizado, mas vivido prazenteiramente.

Há cursos patrocinados por entes estatais e grandes empresas para que seus funcionários e empregados saibam dispor dessa riqueza. Parece bobagem, mas aquilo pelo qual sempre lutamos - mais tempo -, quando o temos à vontade, não o utilizamos com sabedoria - ou coragem, ou gosto.
Tempo não é um bem para ser gasto, mas usufruído. Gostei. Vou repetir e até grifar: "Tempo não é um bem para ser gasto, mas usufruído." Legal, não é?
Riqueza demais pode ser causa de depressão. Falta do que fazer?
Não, inapetência para saber lidar com o que temos, quando temos em abundância. Em geral, não nos preparamos para isso.

Então é preciso que você saiba agora do que gosta, com o que tem afinidade, o que o faz feliz.
Você pode continuar trabalhando a vida inteira, pode tirar férias, de vez em quando, pode se aposentar.
É importante saber todos os hobbies que não cultivou por falta de tempo, todas as ocupações, todas as loucuras.
Praticar um esporte, falar uma língua nova, participar de trabalho voluntário (crianças, idosos, bichos, natureza, deficientes, câncer e outras doenças crônicas, há tanta carência de afeto e gente), fazer um curso de maquiagem, de fotografia, escrever poesias (Cora Coralina publicou seu primeiro livro com "apenas" 75 anos), participar de um grupo de teatro, fazer crochê (Rodrigo Hilbert não é o máximo?), tricô, artesanato, pintar um quadro, pescar, cuidar do jardim ou do pomar...
Afinal, agora você tem tempo para isso e ganhará, em consequência, qualidade de vida. O importante é saber gozá-lo com sabedoria e prazer. Desde já, enquanto há tempo.
Eu optei por trocar a cidade grande (São Paulo) por outra, menor, tanto praia - afinal, está no litoral - como interior - porque é quase caipira, no sul do estado, rodeada de verde.
Um grande terreno, que pretendo útil e produtivo e lindo até o último centímetro quadrado (ou quase, senão fico neurótica) e a companhia de dezenas de passarinhos, que nos fazem companhia (todos soltos, chegam a pousar em nossas mãos).
Minha escolha, como qualquer outra, envolve negativas - é isto ou aquilo, não posso (no caso-exemplo) estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Entretanto, me dou conta de que abri mão de coisas que me são supérfluas, e que a minha escolha me proporciona uma série de novas e gratas opções, entre elas, a melhor qualidade de vida e a possibilidade de dirigir sem absolutamente nenhum trânsito (isso existe).
Quer saber? Sou mais feliz. Muito, muito, muito mais feliz do que antes, e apenas não sei porque não optei antes por procurar um ambiente onde pudesse me sentir em paz comigo e com a natureza. Porque não conseguia vislumbrar essa alternativa.
E você? O que o faz feliz, feliz de verdade, dentro de seu coração?
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