Da minha sensação de impotência
Ou de meus humores.
Cantarei Itanhaém,
Como canta Itanhaém (a pedra que canta).
Direi dos pássaros que me visitam
A reclamar comida no cocho
A me desejar...
bom dia.
Das verduras e legumes
Que se oferecem, a mim
No quintal verdejante
Reviverei as ondas do mar - tão pertinho!
Lambendo meus pés
Embalsamados pelos cristais de sal e areia
Que boiam na água tépida.
Com um sorriso, trarei à memória
Cada flor
Cada bocado suculento,
De frutos acompanhados, namorados, aguardados
E, ao final, disputados com as avezinhas.
O fingir pescar, com vara de caniço
A isca de improviso, não testada
A de minhoca, apenas molhada.
O rio, que só experimentei
Na Boca de sua Barra
Mal e mal.
Há tanto a perceber
A viver
A experimentar.
Sem dor, sem doer.
Vamos lá
Que hoje é quinta-feira
Findo o horário de verão
O sol ainda brilha.
Sol, chuva ou nuvem
Não importa
Mais certo é hoje
Se aproveitar
Com o coração
O momento-presente
O agora-vivo.
Se programar
Ser programado
Churrasco com os amigos
Baralho, truco ou buraco
O jantarzinho
Ou só namorar.
Brincar de inventar
E se chamar artesão.
Mas a cidade chama
"Saia do seu quintal
Há mais passarinhos aqui"
E cachoeiras e peixes e riso
Se bem que trate também
Com quem lhe falte o siso.
Então há lixo a ver - e recolher
Senão a reclamar recolhimento.
Há o que cuidar e remendar
Meu, seu, nosso.
Porque o homem dana
Se dana e reclama.
Pois as mãos são poucas
E curtas como o tempo.
Daí fico no esquecimento
Porquanto entregue àqueles
Que já, bem logo
Virão, com mãos - as deles, longas - estendidas
Pedir o voto, outra vez.
Que sejamos dignos
- Nós e eles -
De tudo o que recebemos
Desta cidade abençoada.
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